quinta-feira, 13 de abril de 2017

Experiências de baixa, e bota baixa nisso,  gastronomia em Ponta Grossa


Quinta-feira santa, começo de noite com um friozinho gostoso, eu resolvi comer uns petiscos. Como quinta é dia de rodízio de petiscos no Botequim, lá fomos nós....
Consegui pegar a penúltima mesa disponível, sentamos, e aí a coisa começou a ficar muito interessante.....
Pedimos chope Black, ideal para uma noite fresquinha... Não tinha.
Tudo bem, era noite de rodízio de petiscos, não podia dar errado... Deu!
O garçom põe a mesa e eu noto que o azeite era de um dourado tão intenso que devia ser alguma colheita de uma azeitona muito especial. Oba!!! Mas tava dourado demais. Na penumbra eu finalmente consegui ler o rótulo: Óleo de bagaço de azeitona. Bagaço de azeitona!!! Em subproduto que sobra depois que tudo de bom que a azeitona tem, tirado em prensagem a frio, a quente e composta.... Aquela coisa informe e insossa, quase rançosa que sobra é o óleo de bagaço de azeitona!
Mas tudo bem, na chuva, são só uns pingos... E veio, pra abrir os trabalhos, uns dos meus petiscos favoritos: carne de onça. Oba!!! Já pedi dois pedacinhos e arrisquei temperar com o tal óleo de bagaço de azeitona. Argh!!! Ficou uma coisa pegajosa, com um gosto forte de algo indistinguível, mas que com certeza não era oliva. Engoli de um tranco, e fiquei com a boca pegajosa de óleo, a língua grossa, por uns 10 minutos.
Como eu sei que foram 10 minutos? Para ser preciso, foram no mínimo 10 minutos, porque quando o próximo petisco do rodízio começou a demorar, eu disfarçadamente comecei a medir o tempo.....
Pudera, o Botequim lotado, com gente em pé e tinha um, isso mesmo, um garçom apenas, unzinho só, servindo os petiscos pras dezenas de mesas no salão do bar...
Mas a comida, quando vinha, era passável, nada excepcional, mas uma comida de boteco honesta. Mas esperar dez minutos por duas iscas de tilápia, uma coxinha da asa, ou meia dúzia de batatas fritas, é meio muito.... Lembrando: dez minutos para cada passagem de petiscos, não é tudo ao mesmo tempo, não. E o coitado do garçom, se desdobrando, mas nem o Usain Bolt conseguiria fazer nada mais rápido.. Deu pena do rapaz e do seu esforço!
A música salvou a noite. Um grupo de sax, percussão e violão, bom, muito bom, às vezes até se atrevendo a incursões em repertório de big band, com In the Mood e uma interpretação bluezada muito boa de Marisa Monte (Bem que se Quis). Isso permitiu que gente exercitasse a longanimidade e esperasse por mais dois ou três petiscos. Mas quando veio a segunda rodada de pastelzinho de queijo, deu!
Uma hora e tanto de Botequim foi o suficiente para não voltar lá por um bom tempo........ E é uma pena, porque a comida é honesta, a música é boa e o pessoal que atende se desdobra em dez.....
Agora, faltar a bebida apropriada para a noite, servir um rodízio a conta-gotinhas e regar tudo isso com óleo de bagaço de azeitona leva a gente a pensar que o pessoal da gerência está dormindo sobre os louros da fama do estabelecimento, ou então resolveu enfrentar a crise pelo caminho mais equivocado possível no ramo de alimentos e bebidas, economizando na qualidade dos produtos. E olha que eu não falei da qualidade do molho de pimenta, ultra industrializado e de uma qualidade, pra dizer o mínimo, precária, uma contradição com nome do local, Botequim. Botequim que se preza tem acompanhamentos de mesa de qualidade, que enriqueçam e não aviltem o que vem da cozinha.
Tô me sentindo, ao final disso tudo, como pessoal do pagode de Irajá.... Sobrou pra mim o bagaço da azeitona.....